Movimento Negro nacional em convergência
Nesse sábado(16.07), na cidade de Aracaju/SE, está acontecendo uma reunião de mobilização nacional do Movimento Negro. De Alagoas, participa o malungo Helcias Pereira – Coordenador Geral dos Agentes de Pastoral Negros do Brasil (Apns Do Brasil) e Secretário de Formação e Pesquisa do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô (Anajô Apns). Desejamos sucesso nas discussões e deliberações!
Registro fotográfico – 9º Tambor Falante
A 9ª edião do Tambor Falante ocorreu no dia 16 de maio de 2015, e o tema discutido foi: “Racismo Institucional & Violência contra a população negra”. Agradecemos a contribuição e partilha de conhecimento dos facilitadores Carlos Martins e Leandro Rosa.
Xirê de Malung@s
No dia 20 de março de 2015, os Agentes de Pastoral Negros do Brasil em Alagoas (Apns/AL) intensificaram o debate sobre a Marcha Nacional das Mulheres Negras, através da leitura do manifesto e assistindo vídeos temáticos.
Também foram discutidas estratégias de mobilização, em conjunto com outros grupos, para destacar a importância desse ato que acontecerá no dia 18 de novembro em Brasília.
Estamos em marcha contra o racismo e machismo. Lutamos por respeito, dignidade e bem viver!
Saiba mais: http://www.2015marchamulheresnegras.com.br/
Bastidores: Roda de conversas promovida pela CUT-AL
A Secretaria Estadual de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT-AL) promoveu no dia 21 de novembro, no Sindicato dos Bancários em Maceió, a roda de conversa sobre o tema: “Os desafios do combate ao racismo no mundo do trabalho e a participação social como ferramenta de aprofundamento desta luta”.
O Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô/APNs esteve presente, com representantes na plateia e na mesa redonda. A atividade contou com as explanações de Júlia Nogueira, Secretária Nacional de Combate ao Racismo da CUT; Valdice Gomes, Presidenta do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Conepir); e Helcias Pereira, Vice Presidente do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô.
Na programação, também teve a apresentação do Coletivo Maracatod@s.
Seminário sobre mulheres negras
Juventude APNs participam do 2º Encontro Nacional
Nos dias 1º a 4 de maio, no Centro de Formação Pastoral Heitor Frisoth (CENPAH) em Salvador(BA), ocorreu o 2º Encontro Nacional da Juventude dos Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs). A entidade do Movimento Negro Nacional reuniu aproximadamente 40 jovens e convidados de vários estados, para discutir o tema “Juventude Negra e Direitos”.
A programação foi composta por grupos de trabalho e debates sobre: identidade e pertencimento; novas formas de militância juvenil; o fim dos autos de resistência que tramitam no Congresso Nacional; fé e missão como determinantes para a cidadania; Programa Juventude Viva; atos de racismo na copa do mundo, entre outros.
O Estado de Alagoas foi representado por três integrantes do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô: os jovens, Emanuel de Freitas Pereira e Elane Roberta; além de Helcias Pereira, Coordenador Nacional de Formação dos APNs.
Aprovadas moções na Câmara de Maceió contra abordagem policial e racismo institucional
Texto e foto: Helciane Angélica – Jornalista
Vereadoras por Maceió: Fátima Santiago e Tereza Nelma |
NOTA DE REPÚDIO À POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE ALAGOAS
Em virtude da ação truculenta, abuso de poderes e violação dos direitos humanos e prática de racismo por parte da Polícia Militar do Estado de Alagoas, ocorrida na tarde de ontem (11.08), aos nossos associados Benedito Jorge Silva Filho e sua esposa Franqueline Santos, a Direção Nacional da Associação dos Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs) vem a público repudiar a ação desta polícia que segundo o governo do Estado de Alagoas afirma ser a segurança da sua população.
O casal foi covardemente algemado e colocado numa viatura policial, por defenderem amigos turistas que os acompanhavam após flagrarem um ato de espancamento à alguns jovens usuários de drogas por parte da PM em uma praça próximo a praia de Pajuçara. Os amigos do casal ao ficarem indignados resolveram filmar a cena, o que causou reação dos policiais que partiram para cima dos turistas obrigando a apagarem a gravação, Franqueline tentou argumentar que eles estavam errados, sendo empurrada por um dos policiais. Jorge que estava no carro, saiu para defender a esposa e outro policial ordenou que eles se afastassem imediatamente, como Jorge argumentou que estava defendendo e protegendo sua esposa, a ordem foi para algemar o casal por desacato a autoridade policial e colocá-los no camburão.
A polícia ordenou que o casal só fosse solto caso as imagens gravadas pelos turistas fossem apagadas. O casal preso eram os únicos negros do grupo.
Enquanto entidade do Movimento Negro Brasileiro conclamamos ao Excelentíssimo Governador Teotônio Vilela Filho e ao Comandante Geral da Polícia Militar que tome as providencias cabíveis imediatamente. Estaremos atentos ao desenrolar deste fato.
Senhor Governador, a sociedade brasileira tem demostrado que já não aguenta mais os abusos das autoridades e os discursos falaciosos, clamando por medidas definitivas que garantam os direitos e o fim do racismo institucional por nós combatido já por décadas. Admira-nos ainda esse tipo de ação policial advinda de um Estado que mereceu por parte do Governo Federal o titulo de Estado “Piloto do Plano Juventude Viva”.
Nuno Coelho
Coordenador Nacional dos APNs
Grupo denuncia policiais militares por abuso de autoridade em Alagoas
Foto: Carolina Sanches /G1 |
Racismo dentro das escolas agrava evasão em Alagoas
Alunos faltam às aulas ou até deixam a escola após sequência de humilhações cometidas pelos colegas de sala
Por: Flávia Amaral / Tribuna Independente
Foguinho, Carvão, Chocolate, Negueba. Esses apelidos são rotina na vida escolar de muitos alunos que pagam caro por terem a pele de cor negra. E é para erradicar das salas de aula esse tipo de preconceito que foi sancionada a Lei Federal 10.639 de 2003 que entre outras determinações obriga as unidades de ensino a inserirem na grade curricular uma disciplina específica sobre as relações étnico-raciais.
Mas, em termos de adesão, o país ainda engatinha: a lei está em apenas 20% da rede de ensino. E em Alagoas apenas uma faculdade particular, a Faculdade Integrada Tiradentes (FITs), adotou a lei em suas práticas pedagógicas.
E enquanto essa e outras medidas não se tornam realidade, o preconceito racial segue fazendo cada vez mais vítimas e acirrando a problemática da já preocupante evasão escolar. Num efeito dominó, até mesmo recursos do Bolsa Família estão sendo comprometidos.
Acuados pelo preconceito, alunos como Jorge (nome fictício), da Escola Rosalvo Lôbo, na Jatiúca, sequer têm postura altiva em sala de aula. Sentado logo à frente da professora, em uma das primeiras carteiras, ele pouco fala e de cabeça baixa diz não se importar com as frequentes humilhações a que é submetido por colegas de turma, num exercício quase que rotineiro.
Foi a colega de turma quem detalhou o contexto de agressão vivenciado pelo estudante. Muitas vezes, ela mesma tem que intervir, já que ele não costuma esboçar qualquer reação. “Ficam chamando ele de Chocolate, Negueba. Eu não gosto disso e mando parar porque ele fica quieto, aguenta calado. Um absurdo!”, diz a colega com ar de revolta.
Ela conta que as agressões não são apenas verbais. Há quem chegue na sala de aula e mande Jorge desocupar a cadeira para que um outro aluno sente. “Eles dizem: sai Negueba, sai. E ele sai”, lembra. Cabisbaixo, Jorge ouve todo o desabafo da amiga e se restringe a dizer que simplesmente não liga.
Mãe perdeu Bolsa Família após 37 faltas do filho
Foi fora da sala de aula, na casa de Jorge (nome fictício), que a reportagem constatou que ele não só se abala com a atitude dos colegas, como está se afastando da escola. Aluno média 8, há algum tempo ele vem faltando às aulas, e as ausências – até então injustificadas para a família – impactaram também no estreito orçamento doméstico.
O estudante vive em uma pequeníssima casa de dois cômodos, na Grota do Cigano, no Jacintinho, com a mãe – a diarista Liliane Cardoso dos Santos, a avó – de mesma profissão, Maria de Fátima Cardoso, e ainda o irmão Antônio. Sem um pai presente, os custos da casa são bancados por faxinas esporádicas e com o recurso do Bolsa Família, no valor de R$ 134.
Não bastasse o dinheiro contado, a família agora está com o benefício suspenso devido às 37 faltas acumuladas por Jorge no últimos meses. “É quando eu não estou mais aguentando tanto xingamento, apelido, que prefiro não ir para a escola. Aí não vou. Eu não pedi pra ser assim… preto”, lamentou Jorge, que diz ver cada dia mais distante o sonho de ser advogado.
Para ele, em todas as escolas, os colegas dispensarão a ele o mesmo tipo de tratamento que ele tem hoje. “Já ouvi de outros amigos que são pretos que é do mesmo jeito. Então nem adianta mudar de escola”, conclui.
A apatia aparente quanto às humilhações que o estudante sofre é explicada pelos conselhos recebidos pela mãe. “Ele chega em casa reclamando que ficam colocando esses apelidos nele e eu digo sempre que ele entregue a Deus e não brigue com ninguém. Entre na escola, estude e venha embora. Além de pretos, minha filha, somos pobres”, resumiu Liliane enquanto o filho ouvia a tudo atento, mas ainda de cabeça baixa.
Albinos também são alvo de discriminação
O racismo não se restringe àqueles de cor negra. No outro extremo, ele também se faz presente. Jovens com albinismo – pele extremamente branca pela ausência de melanina – também são alvos de chacotas e discriminação. O professor de jiu-jitsu, Tales Rocha, vivenciou isso na prática.
Ele é negro e embora nunca tenha vivenciado situações de racismo direcionadas a ele, já assistiu a inúmeros casos e em alguns deles partiu em defesa da vítima. Um rapaz albino teria sido covardemente humilhado por dois colegas, na quadra de esportes da Escola Rosalvo Lôbo.
“Ele foi xingado várias vezes e eu tomei as dores dele. Fomos parar na direção e acabamos suspensos, os quatro”, contou o professor, que diz acreditar que uma vez adotada a Lei do Racismo, nas escolas, situações como essas tendem a se tornar menos frequentes.
Menina deixou escola após “pressão”
Basta visitar uma escola para que numa conversa rápida com alunos fique evidente a importância de a temática do racismo ser encarada como prioridade e entrar na pauta de discussão de gestores da Educação.
A sala do oitavo ano da Escola Theonilo Gama, no Jacintinho, não difere das demais, como afirmou Valéria Silva, que acompanhou o drama de uma colega negra e de cabelo crespo, que deixou a escola. “O cabelo dela é bem ruim, por isso ela sempre tem que ouvir o pessoal chamar de Foguinho. Todos da sala mexem com ela e ela já chegou a chorar muitas vezes”, lamentou a estudante.
Fomos até a escola para conversarmos com a vítima, mas era tarde. Segundo a diretora Gilvanete Matias da Silva, a jovem saiu do colégio por não suportar a pressão dos colegas pelo fato de ela ter o cabelo crespo. “Ela vinha à direção, a gente conversava com os colegas, mas depois acontecia de novo. Ela chegou até a colocar um aplique no cabelo, mas em vão”, contou.
O drama foi acompanhado por diversos alunos. João Cavalcante, 13, lembra o quanto era difícil para a estudante se manter em sala de aula. “Vi várias vezes a bichinha chorar. Ela brigava às vezes e ia na diretoria, mas paravam de mexer com ela naquele dia. Depois voltava tudo de novo”.
A Lei do Racismo nas escolas ainda é ilustre desconhecida de boa parte dos estudantes de escolas públicas ou particulares. Mas quando colocados em contato com a essência da lei, a matéria divide opiniões. Em uma conversa com quatro estudantes negros, permearam visões bem diferenciadas, mas entre elas um consenso: o racismo precisa ser combatido.
Para Luigi Nelson de Oliveira, 15, uma disciplina não resolveria um problema tão sério. “Somos todos iguais e não deveria ter matéria pra gente saber disso e respeitar o outro. Se não acontece isso hoje, não vai ser uma matéria que vai mudar”, analisou. Ailton José, também com 15 anos, é mais otimista. “Resolve, sim, estudar, estudar, até aprender o que é certo e o que é errado”. Mais ponderado, João Cavalcante – que assistiu às humilhações contra a colega de turma que acabou indo embora da escola – admite que a matéria pode não resolver, mas ajuda a melhorar.
Professores presenciam casos e defendem retorno de matérias
Quem teve na grade escolar matérias como Organização Social e Política do País (OSPB) e Moral e Cívica deve entender o porquê de os professores entrevistados pela reportagem defenderem a retomada das disciplinas. As docentes Eliana Ribeiro, Sandra Maria Ertel e Joana Cesárea foram unânimes ao afirmar que presenciam muitos casos de racismo onde trabalham e que o diagnóstico passa pela educação doméstica, aliás a falta dela.
Para elas, além da falta de base familiar para se firmar valores por parte do aluno há também a falta de disciplinas que seriam uma extensão desse trabalho. “Tiraram da grade matérias como OSPB, que ajudava no debate e no esclarecimento sobre a conduta correta de um ser humano e um cidadão”, analisou Eliana Ribeiro.
Sandra Ertel lembrou ainda do relevante papel da orientadora educacional, que segundo ela atuava na busca de solução para os problemas e dificuldades dos alunos na escola, dividindo até mesmo problemas de casa.
Sobre a lei que vai inserir nova disciplina, Sandra Ertel foi além. “Não deveria ser uma disciplina para abordar preconceito racial isoladamente. Há vários tipos de preconceito e pelo que estamos vendo sobre a nossa juventude o ideal seria uma disciplina que discutisse a diversidade”, sugeriu.
Na Escola Rosalvo Lôbo questões raciais já são parte da prática pedagógica, mas sem um professor ou disciplina específicos. De acordo com Joana Cesárea essa antecipação à lei tem a ver com a importância de se respeitar o outro dentro e fora da escola. Durante a conversa, as professoras lançaram o alerta de que não adianta fazer leis e elas ficarem apenas no papel e que a 10.639 é uma das que devem merecer atenção especial do poder público.
Rede pública deveria ter sido pioneira, diz secretária
A secretária da Mulher, Direitos Humanos e Cidadania, Kátia Born, destacou a importância da Lei do Racismo nas escolas e parabenizou a Faculdade Integrada Tiradentes (FITS) por ter sido a primeira, não só em Alagoas, mas no país a implantar a determinação. “Essa lei já era para estar vigorando em todas as escolas e a rede pública deveria ter sido pioneira, mas não aconteceu. De qualquer forma não podemos ficar parados”, criticou.
De acordo com a secretária, um apelo já foi feito aos secretários de Educação e eles se mostraram receptivos à implementação da lei. “Ainda este mês está na pauta de discussão para trabalharmos inicialmente os professores”. Segundo ela, mais de 40 professores da rede pública estão preparados para lidar com a temática em sala de aula.
A reportagem tentou contato com o secretário de Educação, Adriano Soares, durante mais de uma semana, mas as ligações e mensagens não tiveram retorno.
Uma das principais incentivadoras da Lei do Racismo, na Fits, a professora e mestre em Serviço Social, Silmara Mendes Costa, diz que o momento é de uma política de reparação. “Temos que rever tudo o que aprendemos e discutir questões que vão desde o reconhecimento afro-descendente à igualdade de direitos”, defende. Sobre a efetividade da lei nesse propósito, a assistente social diz que é um importante passo, mas que deve haver ações de extensão.
A qualificação dos professores seria um dos pontos mais importantes para o combate do preconceito racial dentro da sala de aula. “O professor tem que estar preparado para lidar com o problema quando se deparar com ele. O professor está na linha de frente”, analisou.
A tímida atuação de Alagoas na temática afro-descendente não é o que se pode chamar de uma constante. Há sete anos, o Estado foi apontado pelo Ministério da Educação como referência na questão. Através do ‘Identidade Negra na Escola’ era estabelecido um diálogo com as escolas a partir da qualificação mensal de professores, uma prática extinta pela burocracia na gestão pública.
De acordo com a coordenadora do movimento Raízes da África, Arísia Barros, “a educação antirracista aqui não existe pela ausência de interesse político. Isso é uma ação política e não restrita ao professor”, destacou.
Este é o ano internacional dos afro-descendentes e, ainda de acordo com Arísia, nada aconteceu. Para ela, num panorama nacional, o mapa que se desenha é frágil e pouco suscita algum avanço.
“Alagoas era para apresentar uma outra realidade. Somos a referência máxima da liberdade afrodescendente. Fazemos a terra de Zumbi dos Palmares”, lembrou.